Os Princípios de Treino
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- 5 de mai. de 2020
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Atualizado: 11 de jun. de 2020
Quando o treino é pensado, há que ter em conta determinados factores para que todo o processo seja orientado na direção correta. Em seguida, iremos abordar alguns daqueles que julgamos ser fundamentais.

Um dos mais importantes princípios de treino é treinar em função do modelo de jogo estipulado, para que haja uma contextualização e uma evolução no conhecimento técnico e tático dos atletas. Tal princípio nem sempre é tarefa fácil de executar, em parte, por vezes, devido ao reduzido espaço de treino para um número elevado de praticantes. Uma dica que poderá ajudar nos escalões de formação e, decerto, grande parte dos treinadores já utiliza, é dividir a equipa em dois grupos e, enquanto um dos grupos executa os exercícios propostos, o outro grupo, sob a supervisão do(a) treinador(a) adjunto(a), realiza a preparação física (assim também se resolve o problema que é ter muitas pessoas na sala de musculação).
Outro dos princípios é o da especificidade. Isto é, os exercícios realizados no treino devem ser o mais específicos possível, pois o facto de se realizarem exercícios gerais, que se aplicam a várias modalidades, não produz nenhuma transferência para o voleibol, uma vez que os esquemas motores solicitados são distintos de modalidade para modalidade. A especificidade da relação trabalho/recuperação também é muito importante para o treino, bem como a reprodução de condições semelhantes à competição, visando um maior domínio do factor psicológico.
O conceito de transferência de aprendizagem não se aplica com exatidão ao voleibol. O que geralmente ocorre é a capacidade de aprender a aprender. A coordenação geral, que deveria ser da responsabilidade da entidade escolar, não ajuda na transferência de aprendizagem do voleibol e a sua realização no escalão de mickeys serve o conceito anteriormente mencionado.
O nível de especificidade dos exercícios deve ser tido em consideração, pois o mesmo exercício pode ter níveis de especificidade diferentes, ou seja, o que é específico para a minha equipa pode já não o ser para uma outra equipa.
Na sequência dos princípios que acabámos de referir, a realização de jogos de cooperação parece também não responder às exigências do jogo, uma vez que não é esse o objetivo final do mesmo. Como tal, podemos contornar esta situação, por exemplo, reduzindo o tamanho do campo e aumentando o tamanho da rede para que o(a) defensor(a)/recebedor(a) tenha tempo de reagir ao ataque/serviço adversário e para a bola não se perder tão facilmente (principalmente nos escalões de formação).
A variabilidade das solicitações dentro da especificidade também é uma estratégia potenciadora do entusiasmo dos atletas, bem como a adaptação a diferentes contextos de aprendizagem.
Os sistemas dinâmicos - "o todo não é a soma das partes" - referem a importância do trabalho coletivo. No entanto, tal não quer dizer que este trabalho não seja individualizado, isto é, a interacção entre as partes pode ser otimizada se as exigências de treino de cada elemento forem supridas. Garganta et. al (2003), citado por Neves (2008), refere que as características individuais dos jogadores (como, por exemplo, a cargabilidade e a treinabilidade) e o momento onde se unem exigem uma adaptação das cargas aos mesmos e não o inverso, implicando a diferenciação do trabalho de modo a alcançar o melhor efeito em cada um. O princípio da individualização é válido para as cargas físicas, psicológicas, técnicas, teóricas e táticas.
O princípio da sobrecarga defende que um dado exercício só é benéfico se criar uma sobrecarga no jogador e por sobrecarga entendem-se as componentes técnico-táticas, psicológicas e/ou físicas. Garganta et al. (2003), citado por Neves (2008), refere que se o limiar de adaptação não for atingido, não são provocadas alterações. Assim, cargas fracas irão provocar atrofia e perda de capacidades, cargas médias mantêm o nível de rendimento, cargas fortes induzem a uma reorganização estrutural e melhoria funcional, elevando a capacidade de rendimento. Pelo contrário, cargas demasiado fortes conduzem ao esgotamento do atleta (sobretreino) e à perda de rendimento, pois ultrapassam os seus limites fisiológicos.
O treino também deve ser idealizado tendo em conta o princípio da progressão e da continuidade, pois todos os exercícios devem ter uma linha condutora e fundamentada relativamente àquilo que se quer trabalhar, partindo do mais simples para o mais complexo, aproveitando ao máximo o tempo de treino para que a densidade motora seja o mais elevada possível. No voleibol português, a realidade pode ser um pouco diferente, pois perde-se muito tempo do treino com transições, interrupções de agentes externos/pausas e até com a própria explicação dos exercícios, não havendo, por vezes, uma grande evolução dos conteúdos de jogo.
O desafio é aperfeiçoar sempre, melhorar sempre, mesmo quando se é o melhor. Especialmente se já se é o melhor.
James Kerr em O Legado
Referências Bibliográficas
Castelo, J.; Barreto, H.; Alves, F.; Santos, P.; Carvalho, J.; Vieira, J.. (2000). Metodologia do Treino Desportivo. pp. 575-608. fmh Edições.
Matvéiev, L.. (1990). O Processo de Treino Desportivo. Cultura Física. 2ª edição.
Coutinho, P.; Neves, J.; Faria, R.. (2010). Estudos Práticos III – Voleibol. Documento de apoio à Unidade Curricular Estudos Práticos III – Voleibol. Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
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