Estrutura Formal e Funcional do Jogo
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- 22 de mar. de 2020
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O Voleibol, como jogo desportivo coletivo que é, tem características comuns a todos os outros do seu grupo, como, por exemplo, a existência de um objeto de jogo, a presença obrigatória de arbitragem e a existência de fundamentos técnicos e táticos específicos.
Já dentro da sua especificidade, o Voleibol divide-se em duas estruturas: a Estrutura Formal e a Estutura Funcional.
Da Estrutura Formal fazem parte o regulamento de jogo e todas as ações de jogo por ele impostas. No entanto, a fronteira que separa a estrutura formal da funcional não se encontra bem definida, sendo a primeira estrutura a base que sustenta a segunda.
Relativamente à Estrutura Funcional, esta é a mais específica da modalidade e subdivide-se nas estruturas interna e externa.
A estrutura interna é constituída essencialmente pelas leis ou regulamento específico do jogo aliados à noção de equipa e adversário (MOUTINHO, 1998). Já a estrutura externa prende-se com a ciclicidade das subestruturas do jogo e com a especialização dos jogadores, quer ao nível posicional, quer ao nível funcional.
A Estrutura Interna
Moutinho (1998) sugere uma visão dualista da estrutura interna do jogo: uma que consiste no plano regulamentar e outra que atenta para as inter-relações equipa/adversário.
No âmbito do plano regulamentar, há que ter em consideração alguns dos seguintes factores referidos por Moutinho (1998): resultado do jogo, tempo de jogo, rotação e posição dos jogadores, execução dos procedimentos do jogo, penalização pelo erro técnico, imposição do ritmo e tempo de jogo e espaço de jogo e contacto físico.
Começando pelo resultado do jogo, este factor é particular do Voleibol pela única razão de que nesta modalidade existe sempre uma equipa vencedora e outra derrotada, não existindo, por isso, empates.
A rotação e posição dos jogadores também é um factor específico do Voleibol, pois apenas nesta modalidade existem condicionantes regulamentares no que concerne ao posicionamento dos jogadores no campo, bem como à estrutura da equipa. Este factor requer uma dupla especialização nas tarefas ofensivas e defensivas (MOUTINHO, 1998).

Leis Posicionais do Jogo
Exemplo:
O jogador de Zona 1 não se pode posicionar à frente do jogador de Zona 2 e nunca à esquerda do jogador de Z6.
Relativamente à execução dos procedimentos do jogo, este factor encontra-se interligado com a rotação obrigatória dos jogadores e com a exclusividade de reposição da bola em jogo através do serviço. Como tal, existem procedimentos do jogo que, independentemente da especialização funcional de cada jogador, têm de ser realizados por todos os elementos da equipa.
A dimensão técnica no jogo de Voleibol é extremamente importante para o decorrer do mesmo precisamente porque neste jogo desportivo coletivo ocorre a penalização pelo erro técnico, estando diretamente implicada com o resultado do jogo. Daqui decorre o facto de que equipas tecnicamente pobres terão menos hipóteses de conseguir bons resultados.
No que à imposição do ritmo e tempo de jogo diz respeito, é de salientar que estas acções são muito limitadas no Voleibol. Isto porque leis regulamentares como a não preensão da bola e a limitação de toques na bola por equipa condicionam a intenção de provocar nas acções do adversário uma crise de tempo e de raciocínio tático (MOUTINHO, 1998).
Adicionalmente, o jogo de Voleibol tem como particularidades o espaço de jogo e o contacto físico pelo facto de a disputa da bola ser indireta, ou seja, não há contacto físico entre os jogadores das diferentes equipas e, por isso, há uma predominância da passividade da defesa e da pressão ofensiva. Consequentemente, é necessário estabelecer um conjunto de estratégias específicas para o desenvolvimento do jogo e da atitude competitiva dos jogadores.
NOTA
Existe uma certa incompreensão concetual acerca dos procedimentos de jogo, nos quais algumas vezes são inseridos o remate, a manchete, o passe, entre outros. Ora, estes três exemplos não são considerados acções de jogo mas sim habilidades técnicas que contribuem para o sucesso das primeiras. Os procedimentos ou acções de jogo coincidem mais com o comportamento tático, que pode ser coletivo ou individual.

A Estrutura Externa
É na estrutura externa que se encontram os complexos de jogo. Isto porque o voleibol está dividido em duas fases fundamentais de jogo - o ataque e a defesa – e para isso são utilizados procedimentos de jogo específicos para romper o equilíbrio do oponente.
Dufour (1983), Parlebas (1988) e Grosgeorge (1990), citados por Moutinho (1998), designam a estrutura externa do Voleibol como uma estrutura muito determinista. Isto porque, ao contrário do futebol, que é também um jogo desportivo coletivo e onde a sequência de acções de jogo são imprevisíveis, no Voleibol a sequência de acções de jogo já está mais ou menos determinada, ou seja, já existe a ideia de que após uma receção, vem a distribuição e, de seguida, um ataque (...).
Temos, então, como complexos de jogo:

Considerações:
1 – O serviço deve inserir-se no KII, uma vez que a equipa que tem a posse do serviço visa dificultar a receção adversária e, consequentemente, facilitar a sua própria defesa.
2 – Distribuição I e Ataque I: receção perfeita para a zona de distribuição cria condições ideias para a última e, por consequência, a possibilidade de acelerar o ataque.
3 – Distribuição II e Ataque II: o objetivo da defesa baixa, principalmente no alto rendimento desportivo, consiste geralmente em “levantar a bola” face ao ataque potente do adversário. Ora, isto remete para o facto de a colocação da bola na zona ideal para a distribuição passar a não ser prioridade e, como tal, a distribuição será condicionada, sendo, consequentemente, o ataque mais lento.
4 – Ditribuição III e Ataque III: na cobertura ao ataque a organização da equipa e a sua estrutura não são muito equilibradas, pelo que nesta situação a distribuição pode muitas vezes não ser realizada pelo jogador especializado em tal acção e o ataque remeter-se-á às possibilidades ofensivas existentes.
A importância dos complexos de jogo está muito relacionada com a possibilidade de se orientar o treino de uma equipa de acordo com o seu K mais forte/fraco. A estatística tendencial também permite diferenciar a eficácia dos vários procedimentos de jogo de acordo com o K onde se inserem (exemplo: uma equipa pode ser forte no ataque de KI mas pode ser o oposto no ataque de KII).
A lógica acontecimental do jogo e a análise da performance dos seus complexos permitem, de certa forma, manipular o treino desportivo com vista a um incremento no rendimento.
Referências Bibliográficas
Moutinho, C.. (1998). O Ensino do Voleibol – A Estrutura Funcional do Voleibol; Em O Ensino dos Jogos Desportivos. Graça, A.; Oliveira, J.. Centro de Estudos dos Jogos Desportivos. Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto.
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